quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Marreteiro de sua arte

Paulista de domingo
De mil artes e sons
Passo na calçada do Masp
Onde em meio ao burburinho
De manifestações por
Assassinatos não resolvidos
Hippies vendendo
Pulseiras colares e janelas dos sonhos
Barracas de antiguidades amareladas
Artistas plásticos com seus quadros no chão
E um mar de gente olhando tudo
Encontro um companheiro
De escrevinhação
Mascateando seu livro
(Lá no vão do Masp
Vive uma horda desses
Escritores que andam sempre
Com uma bolsa tiracolo
E um par de exemplares na mão
Tenho inveja deles)
Com um discurso pronto
Oferece seu peixe
Desinibido e mecânico
Mostra a sua foto na contracapa
E se compara a Shakespeare
Como narrador antigo de futebol
Conta em segundos uma história
De como o revisor queimou
O livro supimpa mas
Não é de todo culpado
Não me deixa falar
E manda o preço de 20 mangos
Penso no que seria ele
Nas horas em que não é autor
Das suas histórias
E marreteiro dos seus livros
Corretor de imóveis, contador,
Funcionário público, bancário?
Imagino suas esposas e filhos
Perguntando quando ele
Irá ganhar dinheiro com isso
Seus irmãos, primos e cunhados
Falando à boca pequena
Que ele é um sonhador ou vagabundo
Aí lembro-me que Bukowski foi
Funcionário dos correios a vida inteira
E nunca deixou de escrever
Me convenceu
Compro seu livro
Os do velho safado (Bukowski)
E do marreteiro de sua arte.
db (08/2018)

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