quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Flertando com Sartre

Quando nasce é só existência
E cresce egoísmo e manipulação
Assume assim esta essência
Com escolhas feitas à mão
Condenado à liberdade
Escolhe só o mais útil
Esconde-se da verdade
E leva uma vida fútil
Esquece-se que no futuro
Suas escolhas terão um preço
Um preço pago em ouro puro
Com solidão e falta de apreço
Se é livre para escolher
É livre também para mudar
E os revezes que sofrer
O podem fazer escutar
A essência continua
Mas controla-la é possível
Deixar sua alma nua
E tentar crer no incrível
A procura é urgente
Achar no porto um cais
Decepar esta serpente
Antes que seja tarde demais

db (agosto/2018)

Marreteiro de sua arte

Paulista de domingo
De mil artes e sons
Passo na calçada do Masp
Onde em meio ao burburinho
De manifestações por
Assassinatos não resolvidos
Hippies vendendo
Pulseiras colares e janelas dos sonhos
Barracas de antiguidades amareladas
Artistas plásticos com seus quadros no chão
E um mar de gente olhando tudo
Encontro um companheiro
De escrevinhação
Mascateando seu livro
(Lá no vão do Masp
Vive uma horda desses
Escritores que andam sempre
Com uma bolsa tiracolo
E um par de exemplares na mão
Tenho inveja deles)
Com um discurso pronto
Oferece seu peixe
Desinibido e mecânico
Mostra a sua foto na contracapa
E se compara a Shakespeare
Como narrador antigo de futebol
Conta em segundos uma história
De como o revisor queimou
O livro supimpa mas
Não é de todo culpado
Não me deixa falar
E manda o preço de 20 mangos
Penso no que seria ele
Nas horas em que não é autor
Das suas histórias
E marreteiro dos seus livros
Corretor de imóveis, contador,
Funcionário público, bancário?
Imagino suas esposas e filhos
Perguntando quando ele
Irá ganhar dinheiro com isso
Seus irmãos, primos e cunhados
Falando à boca pequena
Que ele é um sonhador ou vagabundo
Aí lembro-me que Bukowski foi
Funcionário dos correios a vida inteira
E nunca deixou de escrever
Me convenceu
Compro seu livro
Os do velho safado (Bukowski)
E do marreteiro de sua arte.
db (08/2018)

O que eu quero

Quero o poder de uma poesia sentida que faça respirar
Quero o norte de uma palavra forte que me de inspiração
Quero o afago de um silêncio longo que me tranquilize
Um chamado de um amigo que peça ajuda
E o contato de um outro que me traga saudade
Quero conversas animadas sobre nada importante
Que essas conversas sejam sobre o sentido da vida
E que esse assunto seja o que mais importa
Quero tentar entender as verdades alheias
E sempre por em dúvida as minhas verdades
Quero que as esquinas da minha cidade me quebrem
E quero que os viadutos dela me desabem
Quero que toda rua dela seja um palco
Quero que a cidade inteira seja poesia
Não quero matar meus demônios
Mas quero que eles sejam domesticados
Quero que minha essência sejam minhas escolhas
E que eu me orgulhe delas mesmo que deem em nada
Quero um mar de água salgada no canto dos meus olhos
E que esse mar transborde sempre que chova emoção
db (08/2018)